domingo, 25 de agosto de 2013
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 10 - MARIA CLARA
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO 10
MARIA CLARA
Batizada de Maria Clara, filha de Maria Custódia Braga, mas sem pai declarado, conhecido mas não reconhecido, teve uma infância relativamente tranqüila. Sua mãe já tinha uma casa e ajuda do Coronel. Muito mimada e extremamente cuidada pela mãe que teve, anteriormente, 7 filhos, todos falecidos prematuramente, a que morreu com mais idade foi uma irmã com 8 anos. Conseqüência da extrema pobreza e falta de cuidados. Com Maria Clara foi diferente. Sua mãe já pôde cuidar melhor, alem do que, provavelmente, o DNA do Coronel fosse muito forte e resistente. Maria Custódia, como toda mãe, mas no caso dela agravado pelas perdas, vivia com extremos cuidados com a saúde e sobrevivência da filha. Algumas vezes ouvi ela contar que passava a noite ouvindo o respirar da filha.
Maria Clara, naturalmente, devia sofrer por não ter um pai. Sabia quem era, via com freqüência, Itamogi era bem pequena, mas não podia receber nem demonstrar afeto filial. As conseqüências disso começou a sentir já cedo. Foi barrada em sua matrícula na Escola Municipal. A diretora era, justamente, a filha do Coronel Lucas, e não permitiu que a filha bastarda do pai, cursasse o primário na principal escola da cidade. Essa diretora, conhecida como Preta, foi perdoada bem mais tarde por Maria Clara, que foi a única pessoa a visita-la, doente, com frequencia em sua casa e no hospital onde veio a falecer. Maria foi estudar em uma escolinha onde, muito aplicada, se destacou, aprendia com facilidade. Mal terminado o primário, foi lecionar em escola rural.
Seu pai pagou um curso de corte e costura, o que foi de grande valia para ela e o que abriu caminho para o futuro dos filhos. Com muita habilidade, aprendeu e desenvolveu a arte de costurar. Recebia revistas de corte e costura do Rio de Janeiro de copiava os modelos, tornando-se a costureira preferida das mocinhas e de algumas senhoras. Ganhava bem com isso, o que permitia comprar alguns produtos para seu uso em revistas de vendas por reembolso postal.
Gostava muito de dançar. Ela e a prima Donga não perdiam um baile.
Já moça, se apaixonou pelo Tião (Sebastião) Cardoso, irmão do Ranulfo, que conviveu muito conosco. Tião também se apaixonou por ela,queria namora-la, mas seu pai, que tinha um açougue, não permitiu, por causa das origens da Maria Clara, filha bastarda, com mãe e tia de má fama.
Foi uma revolta enorme. Estigmatizada, foi impedida de casar com quem queria. Jurou que sairia da cidade assim que aparecesse um homem de fora, que a levasse para longe dessa sociedade que a oprimia.
Foi, então, que apareceu seu príncipe encantado, boa pinta, e que vivia em São Paulo. Com muito orgulho, casou no civil e na igreja, com vestido de noiva que ela mesmo fez.
De cabeça erguida e causando grande inveja nas mocinhas, Maria Clara deixa Itamogi e, junto com Virgilio, pega a Mogiana, a caminho da cidade grande: SÃO PAULO.
sábado, 10 de agosto de 2013
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 9 - MARIA CUSTODIA BRAGA
O Coronel Lucas Vasco era um baiano que fez fortuna com o café em Itamogi. Foi um homem muito rico. O sinal exterior da riqueza de um fazendeiro era a quantidade de carro de boi, que se usava para transportar a produção. O coronel tinha 13 carros de boi, um número respeitadíssimo. Suas terras era no Baú, a meio caminho para Monte Santo. Em época de colheita do café, seus carros vinham rangendo da fazenda, carregando as sacas até a estação para serem transportadas para Santos e exportadas. Alem do café, ele tinha olaria, destilaria de pinga (a Pinga Luquinha), comercio, entre outras coisas. Alem disso era o chefão da cidade, ele era a lei. Com seus capangas, impunha sua autoridade e vontades. Os interesses da cidade e seus interesses particulares eram a mesma coisa.
Coronel Lucas tinha sua família constituída, mulher e filhos. Mas não era homem para uma só mulher e, portanto, tinha várias amantes e a mulher que lhe interessasse, por bem ou por mal.
MARIA CUSTÓDIA BRAGA era uma se suas amantes favoritas. Vindo de uma família muito humilde, vivia em ambiente de muita pobreza. Teve oito filhos, sete morreram, todos crianças. A que mais viveu foi uma filha de 8 anos, os demais morreram recém-nascidos ou com meses de vida. Tinha 2 irmãs e um irmão.
O irmão, Tio Zordi (Izordino), viveu durante um tempo em São Caetano. Tivemos pouco contato. Só me recordo de uma visita que fizemos, eu e a Vó, à sua casa em São Caetano. Uma casa bem simples. Com um quintal na frente, onde mantinha um macaquinho. Me lembro do fio estendido ligando sua casa à uma árvore, e o macaco correndo de uma ponta à outra. Eu tinha 3 anos e me lembro da forte impressão que me causou o trem chegando à estação de São Caetano passando por algumas grandes indústrias. Era barbeiro. Tio Zordi é o pai da Donga, nossa prima queridíssima a quem chamamos de tia. Tio Zordi, casado com a mãe da Donga, resolveu um dia sair de Itamogi e tentar a vida em Presidente Prudente, onde teria sociedade em uma barbearia. A Donga era recém-nascida e não foi levada. Na viagem a mãe da Donga estranhava que Tio Zordi a deixava e ia para outro vagão e voltava depois de um tempo, o que se repetiu várias vezes. Chegando em Prudente ele convenceu a mãe da Donga a entregar um dinheiro que ela levava, a deixou na casa da pessoa que iria ser sócio, e fugiu para São Paulo. Na verdade as ausências durante a viagem era porque ele levava em outro vagão sua amante, com a qual foi viver em São Paulo. Ajudada pela família onde estava, que pagou a passagem, a mãe da Donga voltou para Itamogi. Tio Zordi voltou para Itamogi no fim dos anos 1950, onde foi viver na Casa da Vó, vindo a falecer alguns meses depois, de infarto.
A irmã mais velha, tia Amélia, foi dona de um bordel em Monte Santo. Me lembro de uma história que a Vó contava e achava engraçada. Ela dizia que o marido da tia Amélia tinha o apelido de Passarinho, ele tinha um desafeto cujo apelido era Gato, Gato matou o marido da Tia Amélia e a noticia que chegou aos ouvidos dela era que O GATO PEGOU O PASSARINHO, ela ficou sem entender, só depois que esclareceram que Gato era o inimigo do Passarinho.Ela ria muito com essa história. Tia Amélia ficou cega na velhice, viveu seus últimos anos em um cômodo nos fundo da casa da Vó, no final dos anos 1950.
A irmã mais nova da Vó, Tia Dila, era mãe do Dito e da Sonia, com quem convivemos . Dito vivia em São Paulo e freqüentou muito nossa casa e chegou a trabalhar uns tempos na Eskala. Tinha uma filha na Vila Carrão onde fomos algumas vezes. Dito voltou para Itamogi onde veio a falecer alguns anos depois na casa da Sonia. A Sonia ainda vive em Itamogi, e, sempre que vamos la, a visitamos. Tia Dila, todos nós recordamos, tinha uma pela enrugadíssima, que impressionava, e, também, sua voz rouca. Faleceu em 1973,no dia de meu aniversário.
O Coronel Lucas Vasco, enquanto travava luta contra o Coronel de Monte Santo e conseguia, junto ao Governador de Minas, a emancipação da, então, Arari, engravidou Maria Custódia Braga, e, depois de, dois meses que ele se tornou Presidente da Câmara Municipal, nascia, em 13 de agosto de 1924, MARIA CLARA.
sábado, 3 de agosto de 2013
HISTORIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 8 - CORONEL LUCAS CAETANO VASCO
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO 8
CORONEL LUCAS CAETANO VASCO
Dom Pedro I foi obrigado a deixar o Brasil. Foi embora fugido. Indispôs-se com muita gente que queriam pega-lo. Refugiou-se em um navio português. La fez as tratativas de transmissão do poder para o filho, que era menor, e zarpou para Portugal, para enfrentar o irmão, que havia tomado o poder da coroa portuguesa.
Uma regência foi então estabelecida, para governar o Brasil em nome do herdeiro do trono, Dom Pedro II.
Como havia o perigo dos partidários de D.Pedro I de restabelecer os laços com a corte Portuguesa e tomarem o poder, tratou, a Regência, de neutralizar a ação do exército, cujos oficiais eram estrangeiros e ligados ao ex-imperador. Desmobilizaram o contingente de soldados para menos da metade de seu efetivo.
Foi, então, criada a Guarda Nacional, composta pelos proprietários de terra e por alguns comerciantes, para defender, cada um em sua área, a ordem local e a ameaça de retomada do poder por parte de Portugal. Cada um formaria, às suas expensas, um corpo de guardas e recebiam o titulo de Coronel da Guarda Nacional. Em sua área, o Coronel era o todo poderoso, era lei, mandava e desmandava.
Com o advento da Republica, foi instituído o voto para escolha de seus governantes. O sistema descentraliza, deixando de existir o poder único central, desmembrando em Federal, Estadual e Municipal. Como, a princípio, o voto era aberto e o número de eleitores limitado àqueles que possuíam um mínimo de renda, que correspondia a mais ou menos 20% da população, permitiu-se ao Coronel local, o controle dos votos, seja pela compra pura e simples, seja por favores ou por intimidação dos eleitores, seja pela criação de outros mecanismos, como o eleitor que votava em vários locais no lugar de eleitores ausentes ou já falecidos. Assim o Coronel elegia quem quisesse.
O presidente Campos Sales, paulista, criou em 1902 um sistema de poder nos três níveis. O municipal em que o Coronel elegia seus representantes no governo local e no governo estadual. Estes por sua vez, davam sustentação ao governador, que, então, era chamado de Presidente da Província, que retribuía repartindo verbas entre seus correligionários. Por sua vez, os governadores davam sustentação ao Presidente da Republica, que devolvia o apoio com verbas públicas aos estados.
São Paulo e Minas detinham o poder econômico, pois ali se encontravam a grande maioria dos proprietários de terras e comerciantes. Com o sistema criado por Campos Salles, garantiu-se o poder político, na famosa política do Café (São Paulo) com Leite (Minas), elegendo, alternadamente, um Presidente de cada estado.
Esse período, conhecido como REPUBLICA VELHA, foi até 1930, quando o Presidente Washington Luis, paulista, quebrando o acordo de revezamento com Minas Gerais, elegeu outro paulista, Julio Prestes, para sucedê-lo na presidência. Minas revoltou-se e junto com Paraiba e Rio Grande do Sul, depôs Washington Luiz, assumindo o poder o gaucho Getulio Vargas.
Getulio institui uma ditadura, centraliza o poder, nomeia governadores, e, com isso, o poder político dos Coronéis diminui sensivelmente. Outro grande golpe no poder do Coronelismo foi a instituição do voto secreto, tornando mais difícil o controle dos votos, o voto feminino e os eleitores não precisariam mais provar renda. Com o crescimento das cidades e conseqüente aumento de eleitores, novas lideranças surgiram, contrapondo-se ao poder da velha classe. A Guarda Nacional é extinta, acabando a figura do Coronel.
Acabou a patente de coronel, mas ficou o coronelismo, o manda chuva local e suas práticas, em muitas cidades, durante bom tempo. Em regiões mais atrasadas ainda persiste a prática de compra de votos, favores, empregos, BOLSA FAMILIA. A cultura política é, ainda, em boa parte baseada nessa tradição.
Itamogi, era um povoado, nascido da lavoura do café, pertencente inicialmente à São Sebastião do Paraiso, passando, posteriormente, a pertencer a Monte Santo de Minas. O coronel local, como não conseguia influencia em Monte Santo, dominada por outro coronel, conseguiu, junto ao Governador de Minas Gerais, a emancipação do município de Arari, posteriormente rebatizado de Itamogi. Mas só garantiu a separação à bala, em confronto com o coronel de Monte Santo.
Assim, em 17 de junho de 1924, é estabelecida a Câmara Municipal de Arari, tendo, como seu presidente, o CORONEL LUCAS CAETANO VASCO.
Assinar:
Postagens (Atom)