domingo, 25 de agosto de 2013
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 10 - MARIA CLARA
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO 10
MARIA CLARA
Batizada de Maria Clara, filha de Maria Custódia Braga, mas sem pai declarado, conhecido mas não reconhecido, teve uma infância relativamente tranqüila. Sua mãe já tinha uma casa e ajuda do Coronel. Muito mimada e extremamente cuidada pela mãe que teve, anteriormente, 7 filhos, todos falecidos prematuramente, a que morreu com mais idade foi uma irmã com 8 anos. Conseqüência da extrema pobreza e falta de cuidados. Com Maria Clara foi diferente. Sua mãe já pôde cuidar melhor, alem do que, provavelmente, o DNA do Coronel fosse muito forte e resistente. Maria Custódia, como toda mãe, mas no caso dela agravado pelas perdas, vivia com extremos cuidados com a saúde e sobrevivência da filha. Algumas vezes ouvi ela contar que passava a noite ouvindo o respirar da filha.
Maria Clara, naturalmente, devia sofrer por não ter um pai. Sabia quem era, via com freqüência, Itamogi era bem pequena, mas não podia receber nem demonstrar afeto filial. As conseqüências disso começou a sentir já cedo. Foi barrada em sua matrícula na Escola Municipal. A diretora era, justamente, a filha do Coronel Lucas, e não permitiu que a filha bastarda do pai, cursasse o primário na principal escola da cidade. Essa diretora, conhecida como Preta, foi perdoada bem mais tarde por Maria Clara, que foi a única pessoa a visita-la, doente, com frequencia em sua casa e no hospital onde veio a falecer. Maria foi estudar em uma escolinha onde, muito aplicada, se destacou, aprendia com facilidade. Mal terminado o primário, foi lecionar em escola rural.
Seu pai pagou um curso de corte e costura, o que foi de grande valia para ela e o que abriu caminho para o futuro dos filhos. Com muita habilidade, aprendeu e desenvolveu a arte de costurar. Recebia revistas de corte e costura do Rio de Janeiro de copiava os modelos, tornando-se a costureira preferida das mocinhas e de algumas senhoras. Ganhava bem com isso, o que permitia comprar alguns produtos para seu uso em revistas de vendas por reembolso postal.
Gostava muito de dançar. Ela e a prima Donga não perdiam um baile.
Já moça, se apaixonou pelo Tião (Sebastião) Cardoso, irmão do Ranulfo, que conviveu muito conosco. Tião também se apaixonou por ela,queria namora-la, mas seu pai, que tinha um açougue, não permitiu, por causa das origens da Maria Clara, filha bastarda, com mãe e tia de má fama.
Foi uma revolta enorme. Estigmatizada, foi impedida de casar com quem queria. Jurou que sairia da cidade assim que aparecesse um homem de fora, que a levasse para longe dessa sociedade que a oprimia.
Foi, então, que apareceu seu príncipe encantado, boa pinta, e que vivia em São Paulo. Com muito orgulho, casou no civil e na igreja, com vestido de noiva que ela mesmo fez.
De cabeça erguida e causando grande inveja nas mocinhas, Maria Clara deixa Itamogi e, junto com Virgilio, pega a Mogiana, a caminho da cidade grande: SÃO PAULO.
sábado, 10 de agosto de 2013
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 9 - MARIA CUSTODIA BRAGA
O Coronel Lucas Vasco era um baiano que fez fortuna com o café em Itamogi. Foi um homem muito rico. O sinal exterior da riqueza de um fazendeiro era a quantidade de carro de boi, que se usava para transportar a produção. O coronel tinha 13 carros de boi, um número respeitadíssimo. Suas terras era no Baú, a meio caminho para Monte Santo. Em época de colheita do café, seus carros vinham rangendo da fazenda, carregando as sacas até a estação para serem transportadas para Santos e exportadas. Alem do café, ele tinha olaria, destilaria de pinga (a Pinga Luquinha), comercio, entre outras coisas. Alem disso era o chefão da cidade, ele era a lei. Com seus capangas, impunha sua autoridade e vontades. Os interesses da cidade e seus interesses particulares eram a mesma coisa.
Coronel Lucas tinha sua família constituída, mulher e filhos. Mas não era homem para uma só mulher e, portanto, tinha várias amantes e a mulher que lhe interessasse, por bem ou por mal.
MARIA CUSTÓDIA BRAGA era uma se suas amantes favoritas. Vindo de uma família muito humilde, vivia em ambiente de muita pobreza. Teve oito filhos, sete morreram, todos crianças. A que mais viveu foi uma filha de 8 anos, os demais morreram recém-nascidos ou com meses de vida. Tinha 2 irmãs e um irmão.
O irmão, Tio Zordi (Izordino), viveu durante um tempo em São Caetano. Tivemos pouco contato. Só me recordo de uma visita que fizemos, eu e a Vó, à sua casa em São Caetano. Uma casa bem simples. Com um quintal na frente, onde mantinha um macaquinho. Me lembro do fio estendido ligando sua casa à uma árvore, e o macaco correndo de uma ponta à outra. Eu tinha 3 anos e me lembro da forte impressão que me causou o trem chegando à estação de São Caetano passando por algumas grandes indústrias. Era barbeiro. Tio Zordi é o pai da Donga, nossa prima queridíssima a quem chamamos de tia. Tio Zordi, casado com a mãe da Donga, resolveu um dia sair de Itamogi e tentar a vida em Presidente Prudente, onde teria sociedade em uma barbearia. A Donga era recém-nascida e não foi levada. Na viagem a mãe da Donga estranhava que Tio Zordi a deixava e ia para outro vagão e voltava depois de um tempo, o que se repetiu várias vezes. Chegando em Prudente ele convenceu a mãe da Donga a entregar um dinheiro que ela levava, a deixou na casa da pessoa que iria ser sócio, e fugiu para São Paulo. Na verdade as ausências durante a viagem era porque ele levava em outro vagão sua amante, com a qual foi viver em São Paulo. Ajudada pela família onde estava, que pagou a passagem, a mãe da Donga voltou para Itamogi. Tio Zordi voltou para Itamogi no fim dos anos 1950, onde foi viver na Casa da Vó, vindo a falecer alguns meses depois, de infarto.
A irmã mais velha, tia Amélia, foi dona de um bordel em Monte Santo. Me lembro de uma história que a Vó contava e achava engraçada. Ela dizia que o marido da tia Amélia tinha o apelido de Passarinho, ele tinha um desafeto cujo apelido era Gato, Gato matou o marido da Tia Amélia e a noticia que chegou aos ouvidos dela era que O GATO PEGOU O PASSARINHO, ela ficou sem entender, só depois que esclareceram que Gato era o inimigo do Passarinho.Ela ria muito com essa história. Tia Amélia ficou cega na velhice, viveu seus últimos anos em um cômodo nos fundo da casa da Vó, no final dos anos 1950.
A irmã mais nova da Vó, Tia Dila, era mãe do Dito e da Sonia, com quem convivemos . Dito vivia em São Paulo e freqüentou muito nossa casa e chegou a trabalhar uns tempos na Eskala. Tinha uma filha na Vila Carrão onde fomos algumas vezes. Dito voltou para Itamogi onde veio a falecer alguns anos depois na casa da Sonia. A Sonia ainda vive em Itamogi, e, sempre que vamos la, a visitamos. Tia Dila, todos nós recordamos, tinha uma pela enrugadíssima, que impressionava, e, também, sua voz rouca. Faleceu em 1973,no dia de meu aniversário.
O Coronel Lucas Vasco, enquanto travava luta contra o Coronel de Monte Santo e conseguia, junto ao Governador de Minas, a emancipação da, então, Arari, engravidou Maria Custódia Braga, e, depois de, dois meses que ele se tornou Presidente da Câmara Municipal, nascia, em 13 de agosto de 1924, MARIA CLARA.
sábado, 3 de agosto de 2013
HISTORIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 8 - CORONEL LUCAS CAETANO VASCO
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO 8
CORONEL LUCAS CAETANO VASCO
Dom Pedro I foi obrigado a deixar o Brasil. Foi embora fugido. Indispôs-se com muita gente que queriam pega-lo. Refugiou-se em um navio português. La fez as tratativas de transmissão do poder para o filho, que era menor, e zarpou para Portugal, para enfrentar o irmão, que havia tomado o poder da coroa portuguesa.
Uma regência foi então estabelecida, para governar o Brasil em nome do herdeiro do trono, Dom Pedro II.
Como havia o perigo dos partidários de D.Pedro I de restabelecer os laços com a corte Portuguesa e tomarem o poder, tratou, a Regência, de neutralizar a ação do exército, cujos oficiais eram estrangeiros e ligados ao ex-imperador. Desmobilizaram o contingente de soldados para menos da metade de seu efetivo.
Foi, então, criada a Guarda Nacional, composta pelos proprietários de terra e por alguns comerciantes, para defender, cada um em sua área, a ordem local e a ameaça de retomada do poder por parte de Portugal. Cada um formaria, às suas expensas, um corpo de guardas e recebiam o titulo de Coronel da Guarda Nacional. Em sua área, o Coronel era o todo poderoso, era lei, mandava e desmandava.
Com o advento da Republica, foi instituído o voto para escolha de seus governantes. O sistema descentraliza, deixando de existir o poder único central, desmembrando em Federal, Estadual e Municipal. Como, a princípio, o voto era aberto e o número de eleitores limitado àqueles que possuíam um mínimo de renda, que correspondia a mais ou menos 20% da população, permitiu-se ao Coronel local, o controle dos votos, seja pela compra pura e simples, seja por favores ou por intimidação dos eleitores, seja pela criação de outros mecanismos, como o eleitor que votava em vários locais no lugar de eleitores ausentes ou já falecidos. Assim o Coronel elegia quem quisesse.
O presidente Campos Sales, paulista, criou em 1902 um sistema de poder nos três níveis. O municipal em que o Coronel elegia seus representantes no governo local e no governo estadual. Estes por sua vez, davam sustentação ao governador, que, então, era chamado de Presidente da Província, que retribuía repartindo verbas entre seus correligionários. Por sua vez, os governadores davam sustentação ao Presidente da Republica, que devolvia o apoio com verbas públicas aos estados.
São Paulo e Minas detinham o poder econômico, pois ali se encontravam a grande maioria dos proprietários de terras e comerciantes. Com o sistema criado por Campos Salles, garantiu-se o poder político, na famosa política do Café (São Paulo) com Leite (Minas), elegendo, alternadamente, um Presidente de cada estado.
Esse período, conhecido como REPUBLICA VELHA, foi até 1930, quando o Presidente Washington Luis, paulista, quebrando o acordo de revezamento com Minas Gerais, elegeu outro paulista, Julio Prestes, para sucedê-lo na presidência. Minas revoltou-se e junto com Paraiba e Rio Grande do Sul, depôs Washington Luiz, assumindo o poder o gaucho Getulio Vargas.
Getulio institui uma ditadura, centraliza o poder, nomeia governadores, e, com isso, o poder político dos Coronéis diminui sensivelmente. Outro grande golpe no poder do Coronelismo foi a instituição do voto secreto, tornando mais difícil o controle dos votos, o voto feminino e os eleitores não precisariam mais provar renda. Com o crescimento das cidades e conseqüente aumento de eleitores, novas lideranças surgiram, contrapondo-se ao poder da velha classe. A Guarda Nacional é extinta, acabando a figura do Coronel.
Acabou a patente de coronel, mas ficou o coronelismo, o manda chuva local e suas práticas, em muitas cidades, durante bom tempo. Em regiões mais atrasadas ainda persiste a prática de compra de votos, favores, empregos, BOLSA FAMILIA. A cultura política é, ainda, em boa parte baseada nessa tradição.
Itamogi, era um povoado, nascido da lavoura do café, pertencente inicialmente à São Sebastião do Paraiso, passando, posteriormente, a pertencer a Monte Santo de Minas. O coronel local, como não conseguia influencia em Monte Santo, dominada por outro coronel, conseguiu, junto ao Governador de Minas Gerais, a emancipação do município de Arari, posteriormente rebatizado de Itamogi. Mas só garantiu a separação à bala, em confronto com o coronel de Monte Santo.
Assim, em 17 de junho de 1924, é estabelecida a Câmara Municipal de Arari, tendo, como seu presidente, o CORONEL LUCAS CAETANO VASCO.
domingo, 28 de julho de 2013
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 7
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO 7
O ENCONTRO
VIRGILIO chegou a Itamogi e logo ficou sabendo que no sábado iria ter um baile em que a juventude local iria aparecer. Seria uma boa oportunidade para conhecer as mocinhas da cidade.
O baile seria na casa da DELICATE, organizado por sua filha NAIR.
Era um tipo de baile que acontecia uma vez por ano, cada vez em uma casa diferente. O ponto alto seria uma contradança em que os pares seriam formados por sorteio. As moças fariam um vestido novo, com o cuidado de cada uma fazer o seu com uma estampa diferente da outra. Um pedaço do tecido do vestido era colocado em um envelope, que seria fechado e lacrado. Momentos antes, cada rapaz pegaria um envelope, abriria e, com o pedaço do tecido, buscaria a moça trajada com o vestido correspondente.
Era um grande acontecimento que os rapazes e as moças começavam a curtir bem antes, principalmente as moças, alvoroçadas em escolher o tecido, o modelo e confeccionar o vestido.
Maria e Donga, sua prima, eram muito amigas. Escolheram seus modelos, compraram os tecidos e começaram, elas mesmas, a fazer seu traje, já que sabiam cortar e costurar.
No dia do baile, souberam que iria aparecer um rapaz, que vivia em São Paulo, bonitinho, bem arrumado, que estava passeando em Itamogi, e que era meio irmão da Catarina, que tinha dado de mamar à Maria quando ela nasceu.
Que emoção. A Donga, que já tinha namorado, botou fogo na Maria, dizendo que ela não podia deixar escapar esse príncipe encantado que veio da cidade grande. E combinaram um arranjo.
No baile o coração da Maria disparou ao ver o mocinho de “Sum Paulo”, com seu bigodinho e com um terno bem aprumado.
Donga e Maria puseram seus planos em ação e fizeram com que seus envelopes fossem direcionados: o da Donga para o seu namorado e o da Maria para o Virgilio. Abrindo seu envelope, Virgilio pegou o tecido e procurou seu par, vindo a encontrar aquela mocinha encantadora, de longos cabelos, estrábica, mas que tocou seu coração. Tirou-a para dançar e ao som de uma valsa, Virgilio e Maria se conheceram.
sábado, 20 de julho de 2013
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 6 - ITAMOGI
HISTÓRIA DA NOSSA FAMÍLIA – CAPITULO VI
ITAMOGI
Diz a lenda que no século IX, nas terras altas da Etiópia, um pastor, de nome Kaldi, observou que suas ovelhas ficavam mais espertas ao comer umas frutinhas. Um monge, seu conhecido, informado do fato, desenvolveu uma infusão dessas frutinhas, com a qual, ao tomar, conseguia mantê-lo sem sono em suas orações. Essa bebida difundiu-se pelo Egito, Arábia, Iêmen, propagando-se para todo mundo árabe ganhando, em seguida, a Europa, onde, no começo, teve alguma resistência, pois era tida como uma bebida muçulmana. O café foi trazido para o Novo Mundo pelos holandeses e franceses. A pedido do Governador do Estado do Grão Para, em 1727 o sargento-mor FRANCISCO DE MELO PALHETA levou da Guiana Francesa mudas de cafeeiro para Belem. O plantio do café desenvolveu-se para o Maranhão, Bahia e levado para o Rio de Janeiro. Com grande sucesso, o cultivo do café ganhou o Vale do Paraiba e, com o empobrecimento do solo na região, foi levado para as terra roxas da região de Campinas, norte de São Paulo e sul de Minas Gerais.
Em 24 de junho de 1882 nascia um pequeno vilarejo com o nome de São João Batista das Posses. Recebeu o nome de São João Batista em homenagem ao santo do dia 24 de junho. Pertencia à Monte Santo de Minas e era conhecida como Posses de Monte Santo.
Em 1923 foi elevada à categoria de município com o nome de Arari. Para conseguir sua emancipação, os coronéis de Arari tiveram que enfrentar à bala os coronéis de Monte Santo, que não admitiam a perda do pequeno vilarejo.
Em 31 de dezembro de 1943 ganha seu nome definitivo: Itamogi. Há controvérsias em relação à grafia do nome, se com g ou j. Itamogi significa em tupi-guarani Rio das Pedras. Seu nome foi tirado do pequeno riacho que corre no município que deságua numa lagoa entre o centro e a estação de trem, e continua até o rio Sapucaí.
Itamogi nasceu na esteira da expansão cafeeira pelo norte de São Paulo e sul de Minas Gerais. Local de clima ameno e terra fértil, Itamogi sempre foi produtora de café de qualidade, chegando a ganhar vários prêmios.
Itamogi teve pouco crescimento populacional nesses pouco mais de cem anos de vida. Os que nasciam ou chegavam superavam em muito pouco os que morriam ou saiam em busca de emprego e melhores oportunidades. Muitos itamogienses vieram para São Paulo, principalmente para Osasco.
A partir do seu núcleo central que é a Praça da Matriz, Itamogi cresceu para o sul um pouco mais de um quilômetro, formando os Quatro Cantos, em direção à oeste também um pouco mais de um quilometro, outro tanto à leste em direção ao cerrado e à estação de trem e menos de um quilometro ao norte até o campo de futebol. Nos últimos quinze anos se expandiu um pouco mais tanto em área como em população alcançando o número de quinze mil habitantes. Na área central alguns imóveis foram derrubados dando lugar à outros mais novos, mas na essência Itamogi continua como nós conhecemos na infância, nas décadas de 50 e 60.
Seu povo vive essencialmente da agricultura e de serviços. Não tem indústria, tinha um laticínio que fechou, uma indústria de farinha de milho que também não mais existe.
domingo, 14 de julho de 2013
HISTORIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 5
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO V
VIRGILIO EM SÃO PAULO
Foi essa São Paulo que o pai conheceu quando chegou em 1936. Uma cidade rica, com ares europeu, edifícios grandiosos, limpa, pacífica, com um povo elegante e respeitador, com bondes e automóveis. O pai, um caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, naturalmente ficou deslumbrado com o que encontrou. Ele sempre se revoltou com a transformação e degradação que São Paulo sofreu principalmente depois dos anos 60 e 70.
Quando aqui chegou, São Paulo tinha sofrido, há quatro anos, um grande revés político. Foi a derrota da revolução de 32. Com um slogan de luta pelo restabelecimento da constituição, que a ditadura de Vargas tinha rasgado, São Paulo, na verdade, lutou pela retomada do poder perdido em 30, e, também, com um viés separatista. Muitos, da elite política, tiveram que se exilar.
Derrotado politicamente, mas não economicamente. A economia paulista continuou a crescer a passos largos.
A família, com quem o pai veio, foi morar num casarão na Praça Buenos Aires, ao lado da Avenida Angélica. Um bairro nobre feito para abrigar as mansões dos endinheirados da época.
Foi uma fase boa e tranqüila para ele. Trabalhava na casa fazendo serviços diversos.
Nos dias de folga costumava passear pelo centro da cidade. Pegava o bonde aberto que passava pela Avenida Angélica e ia até o centro. Lá passeava, deslumbrado, pela rua Direita, pela Praça da Sé onde via as obras da nova catedral, pela rua são Bento, Praça do Patriarca, Viaduto do Chá, praça Ramos de Azevedo, onde admirava o Teatro Municipal, rua Barão de Itapetininga, Praça da República. Tudo limpo, povo bonito e arrumado, guardas bem vestidos que respeitavam e se davam respeito, como ele sempre dizia. Sempre falava, com saudade, desse tempo, e tinha razão pois as década de 30, 40, e 50 foram a melhor fase da cidade antes de entrar no caos do crescimento vertiginoso e degradante das décadas seguintes.
Nos passeios, sempre ia bem vestido com terno e gravata. Teve a sorte do filho do fazendeiro ter a mesma constituição física dele, e toda a roupa que o rapaz já não usava mais passava para ele. Eram ternos de casimira inglesa, linho York Street, lã escocesa, camisas de linho e seda, gravatas importadas, sapatos de couro inglês. O pai adquiriu o hábito de sempre se vestir bem. Gostava de estar bem barbeado, limpo, bem penteado, perfumado, roupa bem passada, bem arrumado mesmo quando o dinheiro não dava para comprar roupa nova e apesar da profissão de pedreiro, que foi exercer em seguida. No trabalho não tinha jeito, tinha que andar sujo. Mas, terminado a jornada, se lavava, se perfumava, se aprumava.
A profissão de pedreiro era uma das poucas alternativas que se tinha para quem, como ele, era analfabeto e não tinha qualificação profissional. Com 18 anos o pai deixou a família para quem trabalhava. O fazendeiro passava dificuldades financeiras em função da doença da mulher, razão da mudança para São Paulo, tendo, depois, até que vender sua fazenda, e o pai estava com uma idade em que teria de escolher uma profissão. Assim, por mãos amigas, tornou-se pedreiro.
Teve sorte de, logo no começo, ter ido trabalhar com uns mestres de obras húngaros. Como não se tinha bons profissionais nativos, ia-se buscar na Europa mão de obra especializada. E esses húngaros, mestres de obras de primeira qualidade, ensinaram ao pai os segredos da profissão. Dedicação ao trabalho, serviço de primeira qualidade, foram lições que ele aprendeu e sempre conservou, vindo a ser um excelente profissional do ramo. Uma coisa que não se acostumou dos hábitos dos húngaros foi o hábito de tomar cerveja o dia todo. Dizia ele que os húngaros mal acordavam já iam para o barril de cerveja, que mantinham no alojamento, e bebiam direto na torneira do barril.
Trabalhou em várias obras. Uma, que sempre falava e se orgulhava, era de uma construção ao lado dos fundos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde realizou um bonito trabalho no alto do prédio. Ele sempre me falava que queria me mostrar e, eu, como me arrependo, não me animei a ir ver. Trabalhou, também, em São Sebastião do Paraíso, nas obras de uma igreja local.
Fez algumas amizades nos locais de trabalho. Alguns lhe falavam da luta pelos direitos dos trabalhadores, tendo até o levado para assistir algumas reuniões do partido comunista. Mas nunca se engajou, por falta de interesse político e, logo depois, por ter de lutar para o pão nosso de cada dia da família que se formava.
No dia 20 de setembro de 1942, pelas mãos de um amigo, entrou pela primeira vez num campo de futebol, o Pacaembu, para assistir a partida de um time, que se tornou uma de suas paixões: o Palmeiras. Seu amigo, também descendente de italiano, lhe explicou que naquele dia a colônia italiana deveria apoiar aquele time formado dentro da colônia e que fora obrigado a mudar seu nome de Palestra Itália para Palmeiras e seria o primeiro jogo com o novo nome. O Palestra Itália foi fundado em 1914. Segundo alguns, principalmente os corintianos, de uma dissidência, a ala italiana, do Sport Club Corinthians Paulista, e, segundo os palmeirenses, que não admitem em hipótese alguma esta história, do desejo da colônia formar seu próprio time.
A italianada se reunia para jogar bocha no Clube Espéria, então chamado Societa dei Canottieri (Sociedade dos Canoeiros). O futebol, então, começava a se popularizar. Dois times italianos, o Torino e o Pro Vercelli, passaram por São Paulo no ano de 1914, e isso eletrizou a colônia. Quatro bochistas se converteram ao futebol e levaram à frente a idéia de formar um time, que logo batizaram de Palestra Itália, cujas cores, verde, branco e vermelho, eram da bandeira italiana. Curioso, para nós, é que um desses quatro rapazes chamava-se Vicente RAGONETTI, será que tem alguma coisa a haver com nosso nome? O pai adoraria ter sabido dessa coincidência.
Em 1942 o Brasil declara guerra às potências do eixo: Alemanha, Japão e Itália. Algumas providências governamentais foram tomadas com relação às colônias desses países. Uma delas é que os clubes não poderiam mais ter nomes estrangeiros. Assim o clube Germania passou a se chamar Pinheiros, o Espanha, clube da cidade de Santos, passou a se chamar Jabaquara, o São Paulo Railway passou a se chamar Nacional. O Palestra Itália também teria que mudar seu nome. Por sinal mais dois times brasileiros tinha esse nome: um tornou-se Cruzeiro, de Minas, o outro, Coritiba, do Paraná.
Mas os palestrinos, de São Paulo, resistiam à mudança. Foram então, muito pressionados e ameaçados. A pressão maior partia dos dirigentes do São Paulo, time que há cinco anos tinha se formado e, como ainda não tinha uma sede à altura, estavam de olho no Parque Antarctica, sede do Palestra Itália, pois se não trocasse o nome, a sede do clube seria posta a leilão. Como não tinha outro jeito, tiveram que, além de tirar o vermelho de suas cores, mudar o nome para Palmeiras.
E, justamente nesse dia, 20 de setembro de 1942, o Palmeiras estreava seu novo nome, justamente contra o São Paulo, o time que pressionou as autoridades contra aquele time de italianos e, alem disso, dividia com eles a liderança do campeonato e quem ganhasse seria praticamente o campeão, pois só restaria mais uma rodada.
A semana do jogo foi uma guerra de nervos entre as duas equipes e entre as torcidas. Imagina-se o clima entre os palestrinos, revoltados contra a mudança de nome e a cobiça dos sãopaulinos. E foi nesse ambiente de guerra que o pai foi assistir seu primeiro jogo de futebol. Para desfazer qualquer dúvida que o time era brasileiro, o Palmeiras entrou em campo com uma bandeira do Brasil. A torcida e o pai se levantaram aplaudindo e vibrando com essa atitude. O jogo começa nervoso, a torcida apreensiva. Aos 19 minutos primeiro gol do Palmeiras, gol de Cláudio (que anos depois foi jogar no Corinthians), explosão de alegria do pai e da torcida palmeirense. Mas aos 23 o São Paulo empata, com gol de Waldemar de Brito (futuro descobridor do Pelé), a italianada e o pai emudecem. O jogo é emocionante e disputado. O nervosismo é geral, em campo e na arquibancada. 43 minutos explode o grito de gol na torcida palmeirense e o pai e seu amigo se abraçam: gol contra do sãopaulino de nome Virgílio. O intervalo é só alegria para o pai e a tifosi (torcida italiana). O segundo tempo começa mais nervoso ainda por parte dos sãopaulinos. O time do Palmeiras toca a bola e aos 14 minutos a arquibancada e o pai vai a loucura: gol de Echevarrieta. A pressão continua e ao 19 minutos o sãopaulino Virgílio comete pênalti em cima de Og Moreira ( o primeiro negro que jogou no Palmeiras). Inconformado com a marcação o central Virgílio parte para cima do juiz, o agride e é expulso. A galera e o pai vibram. O time do São Paulo não aceita a marcação do pênalti nem a expulsão e saem de campo, abandonando o jogo. O pai e a torcida palmeirense vibram e o grito “È campeão” ecoa por todo o Pacaembú. O São Paulo foi punido, por ter abandonado o campo, com a suspensão para o jogo seguinte, o Palmeiras ganha sua partida da última rodada e é o campeão de 1942. O pai exulta e se torna, para sempre, um torcedor fanático do Palmeiras.
Em 1944 resolve tirar umas férias e aproveita para ir visitar sua irmã Catarina. Pega o trem da Mogiana e vai para Itamogi.
domingo, 7 de julho de 2013
HISTORIA DA NOSSA FAMILIA CAPITULO 4 - SÃO PAULO PARTE 2
HISTORIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO 4
SÃO PAULO PARTE 2
Em 1867 é inaugurada a estrada de ferro SÃO PAULO RAILWAYS, ligando Jundiaí a Santos. A finalidade era para escoar a safra de café do interior para o porto de Santos. Com isso São Paulo perde a condição de abastecedor de mantimentos e mulas para os transportadores de café que iam e viam do porto de Santos e passavam pela cidade. Isso, naturalmente, provoca um baque na economia da cidade. São Paulo perdia sua função de entreposto e tendia a uma retração. Quis o destino que um surto de febre amarela em Campinas e Santos mudasse a sorte da cidade. Campinas e Santos tinham população e importância maiores que São Paulo.
Campinas era a cidade onde os barões do café erguiam suas casas de cidade, alternando suas vidas nas casas da fazenda e da cidade. Santos abrigava muitos comerciantes, principalmente de café, funcionários do porto, despachantes, etc.. Com o surto da febre amarela, que matava muitos, os fazendeiros de Campinas e a burguesia de Santos, ergueram casas em São Paulo, que ficou imune à doença. Com isso a cidade ganha um desenvolvimento nunca visto. Com o dinheiro investido nas novas casas e palacetes, São Paulo atraiu uma multidão de trabalhadores para construção e para o comércio que desenvolvia com os novos moradores.
Inicia-se um surto de expansão da cidade. Espremida no espaço triangular do centro, novas áreas são abertas e a cidade cresce para o outro lado do vale onde corria o rio Anhangabau, que se torna o novo centro em contraposição ao centro velho. Como o transito de pessoas e animais era intenso de um lado a outro, uma ponte de estrutura metálica é construída sobre o vale, vindo a se chamar VIADUTO DO CHA, pois, no vale, havia plantação dessa erva. Essa ponte metálica foi substituída mais tarde por uma de concreto que esta lá até hoje.
A cidade expande-se em direção aos Campos Elíseos, depois para Higienópolis, e no final do século XIX, abre-se a AVENIDA PAULISTA, com enormes lotes, onde os Barões do Café e da Indústria, que se iniciava, vão construir seus palacetes e mansões.
Erguem-se o Teatro Municipal, a Estação da Luz, o Liceu de Belas Artes, onde hoje é a Pinacoteca, a Catedral da Sé, Edifício Martinelli. Inaugura-se o Parque da Luz. O Vale do Anhangabaú é urbanizado. Abrem-se avenidas como a São João.
A cidade ganha, também, uma leva de imigrantes, italianos principalmente, que vem suprir a demanda de trabalhadores na indústria, que se desenvolvia, no comércio que se expandia, e na construção civil. Bairros de trabalhadores são criados no Bras, Mooca, Bexiga, e, posteriormente, na Pompéia, Lapa, Vila Mariana, etc.
A cidade ferve, os meios de transporte ganham o bonde, primeiro puxados por burros, depois por energia elétrica, interligando os bairros dormitórios de trabalhadores às indústrias e ao centro comercial. O trem desenvolve suas linhas de transporte urbano com a Santos- Jundiaí, Sorocabana, Central do Brasil.
Com a vinda dos fazendeiros de café e os comerciantes de Santos, e a nova burguesia local, cria-se uma elite endinheirada. Essa elite vai promover não só o crescimento econômico da cidade como, também, seu crescimento político, buscando seu espaço no conserto nacional. Essa elite revolta-se contra os gastos que a corte Imperial fazia e que cobrava altos impostos para se manter. Cria-se um antagonismo com os cariocas, tidos como quem não trabalha e vivem em sinecuras mantidas pelo Imperador. As elites paulistas criam o movimento Republicano, que era o caminho para atingirem participação na política nacional, e que leva à queda do Império comandada por D. Pedro II. Com a República, São Paulo conquista, juntamente com Minas Gerais, o domínio do governo federal. Nasce a política do café com leite, café de São Paulo e leite de Minas, onde alternavam-se na presidência, um paulista e um mineiro. Esse acordo é rompido em 1930, o que leva à tomada do poder pelos gaúchos liderados por Getulio Vargas, que extingue a Constituição vigente. Inconformados, os paulistas se revoltam em 1932, na luta pela Constituição e por participação na política nacional. É a Revolução Constitucionalista de 1932. Os paulistas perdem a guerra e seus principais líderes são obrigados a se exilarem. Passa pelo vexame de serem governados por interventores enviados por Getulio. Os paulistas vergam, mas não quebram. Aos poucos vão readquirindo sua importância política, já que a econômica não parava de crescer. Posteriormente foram inaugurados símbolos, como a Avenida e o túnel 9 de julho (data da revolução) e um monumento aos constitucionalistas, em frente ao Parque Ibirapuera, que tem suas medidas proporcionais aos números da revolução: 9, 7 e 32. Para mim o monumento que se ergue ao céu acima do mausoléu é um símbolo fálico: perdemos a guerra, mas aqui pra vocês...
SÃO PAULO PARTE 2
Em 1867 é inaugurada a estrada de ferro SÃO PAULO RAILWAYS, ligando Jundiaí a Santos. A finalidade era para escoar a safra de café do interior para o porto de Santos. Com isso São Paulo perde a condição de abastecedor de mantimentos e mulas para os transportadores de café que iam e viam do porto de Santos e passavam pela cidade. Isso, naturalmente, provoca um baque na economia da cidade. São Paulo perdia sua função de entreposto e tendia a uma retração. Quis o destino que um surto de febre amarela em Campinas e Santos mudasse a sorte da cidade. Campinas e Santos tinham população e importância maiores que São Paulo.
Campinas era a cidade onde os barões do café erguiam suas casas de cidade, alternando suas vidas nas casas da fazenda e da cidade. Santos abrigava muitos comerciantes, principalmente de café, funcionários do porto, despachantes, etc.. Com o surto da febre amarela, que matava muitos, os fazendeiros de Campinas e a burguesia de Santos, ergueram casas em São Paulo, que ficou imune à doença. Com isso a cidade ganha um desenvolvimento nunca visto. Com o dinheiro investido nas novas casas e palacetes, São Paulo atraiu uma multidão de trabalhadores para construção e para o comércio que desenvolvia com os novos moradores.
Inicia-se um surto de expansão da cidade. Espremida no espaço triangular do centro, novas áreas são abertas e a cidade cresce para o outro lado do vale onde corria o rio Anhangabau, que se torna o novo centro em contraposição ao centro velho. Como o transito de pessoas e animais era intenso de um lado a outro, uma ponte de estrutura metálica é construída sobre o vale, vindo a se chamar VIADUTO DO CHA, pois, no vale, havia plantação dessa erva. Essa ponte metálica foi substituída mais tarde por uma de concreto que esta lá até hoje.
A cidade expande-se em direção aos Campos Elíseos, depois para Higienópolis, e no final do século XIX, abre-se a AVENIDA PAULISTA, com enormes lotes, onde os Barões do Café e da Indústria, que se iniciava, vão construir seus palacetes e mansões.
Erguem-se o Teatro Municipal, a Estação da Luz, o Liceu de Belas Artes, onde hoje é a Pinacoteca, a Catedral da Sé, Edifício Martinelli. Inaugura-se o Parque da Luz. O Vale do Anhangabaú é urbanizado. Abrem-se avenidas como a São João.
A cidade ganha, também, uma leva de imigrantes, italianos principalmente, que vem suprir a demanda de trabalhadores na indústria, que se desenvolvia, no comércio que se expandia, e na construção civil. Bairros de trabalhadores são criados no Bras, Mooca, Bexiga, e, posteriormente, na Pompéia, Lapa, Vila Mariana, etc.
A cidade ferve, os meios de transporte ganham o bonde, primeiro puxados por burros, depois por energia elétrica, interligando os bairros dormitórios de trabalhadores às indústrias e ao centro comercial. O trem desenvolve suas linhas de transporte urbano com a Santos- Jundiaí, Sorocabana, Central do Brasil.
Com a vinda dos fazendeiros de café e os comerciantes de Santos, e a nova burguesia local, cria-se uma elite endinheirada. Essa elite vai promover não só o crescimento econômico da cidade como, também, seu crescimento político, buscando seu espaço no conserto nacional. Essa elite revolta-se contra os gastos que a corte Imperial fazia e que cobrava altos impostos para se manter. Cria-se um antagonismo com os cariocas, tidos como quem não trabalha e vivem em sinecuras mantidas pelo Imperador. As elites paulistas criam o movimento Republicano, que era o caminho para atingirem participação na política nacional, e que leva à queda do Império comandada por D. Pedro II. Com a República, São Paulo conquista, juntamente com Minas Gerais, o domínio do governo federal. Nasce a política do café com leite, café de São Paulo e leite de Minas, onde alternavam-se na presidência, um paulista e um mineiro. Esse acordo é rompido em 1930, o que leva à tomada do poder pelos gaúchos liderados por Getulio Vargas, que extingue a Constituição vigente. Inconformados, os paulistas se revoltam em 1932, na luta pela Constituição e por participação na política nacional. É a Revolução Constitucionalista de 1932. Os paulistas perdem a guerra e seus principais líderes são obrigados a se exilarem. Passa pelo vexame de serem governados por interventores enviados por Getulio. Os paulistas vergam, mas não quebram. Aos poucos vão readquirindo sua importância política, já que a econômica não parava de crescer. Posteriormente foram inaugurados símbolos, como a Avenida e o túnel 9 de julho (data da revolução) e um monumento aos constitucionalistas, em frente ao Parque Ibirapuera, que tem suas medidas proporcionais aos números da revolução: 9, 7 e 32. Para mim o monumento que se ergue ao céu acima do mausoléu é um símbolo fálico: perdemos a guerra, mas aqui pra vocês...
sábado, 29 de junho de 2013
HISTORIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 4 - SÃO PAULO PARTE 1
HISTORIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 4
SÃO PAULO – parte 1
SÃO PAULO – parte 1
Em 15 de agosto de 1534, sete estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo espanhol INACIO DE LOIOLA, reuniram-se na Capela dos Martires, na colina de Montmartre em Paris, e, fazendo voto de pobreza e castidade, fundaram a COMPANHIA DE JESUS. A motivação era combater a expansão da Reforma, iniciada por LUTERO, no contexto da REFORMA CATÓLICA, também chamada de CONTRARREFORMA. Ela foi organizada como uma organização militar ( LOIOLA foi militar e ferido em uma batalha), o nome companhia já indica a intenção, para auxiliar a IGREJA CATÓLICA a evangelizar onde fosse necessário. Com as descobertas de novas terras e novos povos pelos portugueses e espanhóis, haveria uma oportunidade enorme de levar a palavra de JESUS a essa massa de almas pagãs, aumentando o rebanho da igreja católica. Assim, junto com os primeiros colonizadores da nova terra do Brasil, vieram vários jesuítas, entre eles MANOEL DA NÓBREGA e JOSÉ DE ANCHIETA.
Cumprindo suas missões em São Vicente, ficaram sabendo da quantidade enorme de índios que viviam nas terras acima da Serra do Mar. Com esses índios, vivia um português degredado, JOÃO RAMALHO, que exercia uma influencia importante junto ao cacique TIBIRIÇA, tendo, inclusive, casado com uma de suas filhas. Ramalho e Tibiriça escolheram para os jesuítas um sítio estrategicamente localizado numa pequena colina onde ergueram uma edificação de pau a pique, que mais tarde será conhecido como PATEO DO COLÉGIO. A fundação dessa missão se deu em 25 de janeiro de 1554, e como era dia de SÃO PAULO, assim foi batizada.
Esse povoadinho reuniu, inicialmente, muitos índios curiosos em ouvir esses homens brancos que ao lado da pregação do evangelho, impunha rígido comportamento dos novos convertidos, como o de ter uma só esposa, o que desgostou, e muito, esse rebanho, que aos poucos foi diminuindo de tamanho.
Como a lavoura de cana de açúcar em São Vicente teve um grande crescimento, houve uma demanda por mão de obra, e, assim, cresceu a busca de escravos indígenas. O entorno de SÃO PAULO virou um grande entreposto de mão de obra escrava, crescendo, também, a criação de mulas para suprir a lavoura e o transporte de alimentos cultivados na região que tinham destino o litoral.
Assim foi-se formando uma comunidade de caçadores de índios, formados por portugueses e principalmente mamelucos, filhos de portugueses com índias. Homens rudes que quase só falavam a língua indígena, que partiam para o sertão em busca de novas levas de escravos. Assim começaram a organizar as expedições para o interior, e toda partida começava em um vale ao lado da colina, onde os organizadores reuniam batalhões de brancos, mamelucos e principalmente índios, mulas carregadas de alimentos, armas e todo tipo de materiais necessários à aventura. Cada expedição portava sua bandeira, daí o nome de BANDEIRANTES. O vale onde se reuniam para a partida da expedição ficou conhecida por PRAÇA DA BANDEIRA.
Nas andanças pelo interior, em contato com várias tribos de índios, foram tendo contato com muitas histórias de montanhas de ouro e pedras preciosas. E muitas bandeiras foram formadas para encontrar essas riquezas. Com isso foram expandindo os limites do Brasil, para alem da demarcação do tratado de Tordesilhas, conquistando o sertão de Goias, Mato Grosso, Minas Gerais, durante os séculos XVII e XVIII, dando fama à uma leva de intrépidos bandeirantes tais como Anhanguera, Fernão Dias, Raposo Tavares, Borba Gato e outros. Quando se descobriram as minas de ouro na região de Ouro Preto, a cidade de São Paulo quase se esvaziou, pois quase todos os homens, adultos e crianças, foram em busca do metal precioso.
A cidade se recompôs quando, terminando o ciclo do ouro, iniciou-se um ciclo de cana de açúcar em seu entorno, transportando essa riqueza para o Porto de Santos, com destino à Portugal.
Quando da vinda da família real para o Brasil em 1808, São Paulo era uma cidade pequena e sem muita importância. Quis o acaso que em suas terras Dom Pedro decidisse separar o Brasil de Portugal, quando mensageiros vindo do Rio o encontraram às margens do Riacho do Ipiranga, voltando de sua viagem à Santos, onde fora por fim a uma briga política entre duas famílias, sendo uma delas a dos ANDRADAS que tinham muita influencia junto à ele, e lhe entregaram carta das CORTES PORTUGUESAS, exigindo que ele voltasse imediatamente à Portugal. A sua entrada em São Paulo , eufórica pelos acontecimentos, foi triunfal, formando um cortejo que subiu a Tabatinguera, a rua do Carmo, até chegar ao PATEO DO COLÉGIO, sendo ovacionado em todo trajeto pelos paulistas.
Nessa época São Paulo se resumia em uma área triangular com vértices na Igreja do Carmo, Pateo do Colégio e Mosteiro de São Bento. Com algumas moradias, também, onde é hoje a Rua Quintino Bocaiuva. Uma curiosidade: na região onde é a 25 de Março hoje, passava o Rio Tamanduatei, mais tarde retificado, urbanizando-se a área. Ali existia um porto fluvial, aonde os beneditinos, do Mosteiro de São Bento, chegavam com seus barcos trazendo os produtos de seus sítios que ficavam lá pelas bandas do hoje Bairro do Ipiranga. Com suas cargas subiam um barranco que passou a ser chamado de LADEIRA PORTO GERAL, permanecendo o nome até hoje.
Em 1827 foram criadas duas faculdades de direito, uma em Olinda e outra em São Paulo. Com o objetivo de formar governantes e administradores públicos, a Faculdade de Direito do Largo São Francisco tornou-se a principal faculdade de direito do Brasil, e, por ela, passaram gerações de homens ilustres em diversos segmentos. Com o tempo, enorme quantidade de alunos, vindos de toda parte do país, incorpora-se à população, lotando as repúblicas que se formaram na Rua Direita e adjacências.
sábado, 22 de junho de 2013
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 3
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO 3
VIRGILIO RIGONATTI
A vó Teresa, nasceu em 1884, data deduzida, e veio para o Brasil em 1892, data de sua chegada que consta nos registros de imigração. Seus pais foram Angelo Passoni e Virginia Barroci.
Quando se casou com nosso avô, Pedro, era viúva e já tinha 6 filhos. Sendo os que eu me lembro: Catarina, Zefa e Chiquinho (Francisco?). Após a morte de nosso avô, em 1928, casou-se pela terceira vez com Luis Vara, com o qual não teve filho. A tia Catarina, que por coincidência amamentou nossa mãe, e a tia Zefa, vieram para São Paulo e conviveram conosco, já o tio Chiquinho permaneceu em Minas, morou em Itamogi, e nós nunca tivemos nenhum contato.
O pai nasceu em São Sebastião do Paraíso em 8 de outubro de 1920. Teve duas irmãs, a Teresa e a Nica, que vieram, também, para São Paulo, e com as quais tivemos muito contato, principalmente a tia Teresa.
O pai teve pouco tempo de convívio com o vô Pedro, pois este faleceu quando ele tinha 8 anos. O pai tinha algumas lembranças saudosas do vô. Eles viviam numa pequena chácara que ficava entre a estação de trem e o centro de Paraíso, chácara esta que foi vendida após a morte da vó Teresa. Quando o vô Pedro ia vender a produção da chácara, costumava levar o pai junto na carroça. Mesmo quando o vô ia se juntar à italianada no bar para beber, jogar ou só prosear, lá ia o pai agarrado à ele. Algumas vezes o vô dizia que era para o pai não ir, mas ele não se conformava e ia seguindo seu pai, escondendo-se nas esquinas. Mas o vó sabia que ele vinha atrás e fingia que não o via, até chegar no seu destino, dava um tempo e aí gritava: “Veni qui Virgilio”, e o pai corria até ele todo sorriso. Eu sempre notava uma forte emoção, o que era raro nele, quando me contava essa passagem de sua infância.
Por temperamento ou por revolta por ter perdido o pai, ou pelos dois motivos, ele foi um garoto briguento. A criançada tinha medo dele, ele impunha respeito. Ele gostava de contar que tinha um lugar cativo no cinema de Paraíso. Se alguém estivesse sentado em sua cadeira quando chegava, tinha que sair por bem ou por mal.
Nada afeito aos estudos, parou de estudar no primeiro ou segundo ano do primário.
Sua vida era brincadeiras na rua com a criançada. Não jogava futebol. Sempre rebelde, apanhava freqüentemente da mãe, chegando esta a atirar-lhe um tijolo na cabeça, mas que, esperto, conseguiu se abaixar e escapou, ficando horas sem aparecer em casa.
Na adolescência, foi trabalhar na casa de um fazendeiro de café. Lá era um faz tudo. Servia de copeiro, ajudava a limpar a casa, servia de office-boy, pequenos consertos...
Com o trabalho, e os conselhos dos donos da casa, deixou as brigas de rua.
Com problemas de saúde da esposa, que necessitava de tratamento especializado, com um filho adolescente que queria continuar os estudos, o fazendeiro, do qual não me lembro o nome, nem sei mesmo se o pai alguma vez mencionou, decidiu mudar-se para São Paulo.
E lá foi Virgilio, com cerca de quinze anos, conhecer aquela cidade grande que tanto encantava os interioranos.
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 2
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 2
SÃO SEBASTIÃO DO PARAISO
Desbravada por bandeirantes a caminho das terras com metais preciosos, São Sebastião do Paraíso era uma imensa fazenda, quando seus donos resolveram, em 1821, doar uma gleba de 5 alqueires para que fosse erguida uma capela em homenagem à São Sebastião, ao qual eram devotos. Essa região era muito bonita, clima ameno, vista bonita, com fontes de água, um verdadeiro paraíso, daí o nome de São Sebastião do Paraíso.
Logo casas foram erguidas ao redor da capela e por ser um entroncamento natural de caminhos seguidos por viajantes e tropeiros e não muito longe das minas de ouro e pedras preciosas, o vilarejo desenvolveu-se chegando à distrito em 1855 e à condição de cidade em 1870.
O surto cafeeiro que tomou conta das terras paulistas de Campinas para o norte, alcançou Paraíso, que se tornou um grande centro cafeeiro. Ao mesmo tempo desenvolveu-se a criação de gado e a indústria do couro bovino, sendo Paraíso, hoje, um importante centro curtumeiro.
sábado, 8 de junho de 2013
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA - CAPITULO 1
HISTÓRIA DA NOSSA FAMILIA – CAPITULO I
A ITALIA DO SÉCULO XIX
O território que hoje conhecemos como Italia, tem uma história de mais de 3.000 anos de civilização. Os primeiros a se destacarem foram os etruscos. Várias cidades, ao sul da Italia, foram fundadas pelos gregos. Depois foram os romanos. Roma, com suas lendas de fundação pelos irmãos Remo e Rômulo ou pelos troianos que, após a queda de sua cidade invadida pelos gregos, foram se estabelecer nessa região, tornou-se um império e dominou o mundo ocidental durante séculos até sua queda em 476 d.c., invadida que foi pelos povos bárbaros da Europa Central, destacando-se os visigodos e os hunos, estes comandados pelo lendário Átila. Roma caiu politicamente, mas não sua civilização, que foi assimilada pelos bárbaros invasores.
O nome Itália aparece em registro pela primeira vez no século I a.c. cunhada em moeda usada pelos povos itálicos em revolta contra Roma .
Nos anos 800 d.c. Carlos Magno, da França, criou o Sacro Império Romano, com Roma sendo reconduzida como capital do mundo.
Com o sistema feudal sendo introduzido como forma de organização política e econômica na Europa, várias cidades tornaram-se verdadeiros estados independentes, e na Italia destacaram-se Milão, Florença, Veneza e Gênova. Estas duas últimas, portos naturais, rivalizaram-se no domínio do comércio internacional de então. A Igreja Católica criou também seu estado, com sede em Roma e dominando um vasto território em torno de Roma.
Com o fim das guerras napoleônicas em 1815, a Itália foi dividida, pelos países vencedores, em sete reinos, contrariando os interesses locais. Nasceu a partir daí o ideal de unificação, que foi conseguido em 1870, quando os exércitos do rei Vitor Emanuel, de Piemonte, derrota os exércitos do Papa, sendo Roma proclamada capital da Itália no ano seguinte. A unificação foi completada no fim da primeira guerra mundial, quando os territórios de Trentino e Friuli, que estavam em poder do Império Austro-Húngaro, foram incorporados à Itália.
Províncias |
Siglas
|
Municípios
|
VENEZIA
|
VE
|
44
|
Belluno
|
BL
|
69
|
Padova
|
PD
|
103
|
Rovigo
|
RO
|
50
|
Treviso
|
TV
|
95
|
Verona
|
VR
|
98
|
Vicenza
|
VI
|
121
|
580
|
As lutas pela unificação tiveram um altíssimo preço para a economia italiana, levando a pobreza e a falta de trabalho para um contigente enorme de italianos, e a solução encontrada foi a emigração. Os alvos desse movimento emigratório foram os Estados Unidos, que precisavam de mão de obra para sua crescente indústria, a Argentina que precisava de gente para seus campos de trigo e o Brasil, que com o fim da escravidão dos negros, necessitava de mão de obra para sua lavoura de café.
Segundo nos contava nosso pai, nosso avô, Pedro Rigonatti, nasceu em alguma pequena cidade próxima à divisa com a Áustria, ele nunca soube seu nome. Três regiões fazem parte da área vizinha à Austria: Trentino, Vêneto e Friuli. Como Trentino e Friuli só foram incorporadas à Italia com o fim da primeira guerra mundial, e sendo Pedro ( provavelmente seu nome de registro na Itália era Pietro e aqui , no Brasil, aportuguesado para Pedro) Rigonatti italiano, deduzo que tenha nascido no território Vêneto, mais precisamente na província de Belluno, mais próxima da fronteira austríaca, ou nas províncias de Vicenza ou Treviso que lhe são contíguas.
Nossa avó paterna, Theresa Pessoni , nasceu, segundo ele dizia, na região do Piemonte, não se tendo nenhuma referência em qual província.
O vô Pedro nasceu em 1874, calculado com base na certidão de casamento com a vó Theresa, ocorrido em 15 de setembro de 1919. Seus pais foram: Antonio Rigonatti e Maria Brizatti. A vó Theresa nasceu no ano de 1884, calculado, também, com base na mesma certidão de casamento, quando tinha 35 anos, e seus pais foram: Angelo Pessoni e Virginia Barroci.
Gênova foi o porto de onde partiam os emigrantes oriundos do norte italiano, que chegavam em lombo de animais, carroças ou a pé. Provavelmente foi assim que a família do Pedro (Pietro) e Theresa chegaram à Gênova e de lá partiram rumo ao Brasil. Por que escolheram o Brasil não se sabe. Provavelmente pela propaganda que se fazia por agentes pagos pelos interessados em mão de obra italiana, agentes esses que muitas vezes era o padre da cidade.
A viagem de navio ao Brasil durava de 25 a 30 dias, ou mais se o tempo não ajudava. Eram viagens em péssimas condições, principalmente para quem viajava de terceira classe (seria o caso deles?), muitos contraindo doenças, muitos morrendo durante a viagem.
Para quem se dirigia à São Paulo, que foi o caso da família dos dois, o porto de chegada era Santos, sendo então encaminhados para o centro de imigração, localizado no bairro do Brás – jamais poderia passar em suas cabeças de crianças ou adolescentes, que quase um século depois, alguns de seus descendentes seriam famosos no comércio desse mesmo bairro.
Nesse centro de imigração eram contratados os trabalhadores para as lavouras, principalmente a de café, que então se espalhava pelas terras férteis do norte de São Paulo e sul de Minas. E assim eles foram levados para São Sebastião do Paraíso, ou adjacências, Minas Gerais.
Devem ter feito a viagem de trem até alguma parte de São Paulo e, de lá, seguido em lombo de animais, carroças ou mais provavelmente de carro de bois, pois não existia ônibus ou trem até seus destinos.
Não se conhecem referências de onde trabalhavam, nem quando foram morar em Paraíso.
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